Senhor das Palmas

— Rodolphinho! Pede um café pra gente!

Pedi o café.

— Rodolphinho! Você já pediu o nosso café?

No fundo, vem o som de xícaras balançando com o carrinho do Senhor das Palmas que ele não pode mais usar. Vem sorrindo tanto para dentro, que por fora a gente acha que tem alguma coisa estranha. Tem, sim: tem um sorriso.

O Senhor das Palmas é a pessoa masculina mais doce que eu conheci que não seja gay. Os gays são mais doces que ele, e este é o problema dos gays: - São muito doces! Gay é como um moranguinho com três potes de açúcar. Ou um suco de limão que a minha empregada faz, que fica açúcar no fundo. Mas eles parecem mesmo é água com açúcar.

Sorvete de morango também se parece com os gays. Mas não falemos dos gays. Existem muitos gays que falam sobre gays. Até a passeata é gay. Do Senhor das Palmas, só falamos quando vem café.

O Senhor das Palmas é doce do jeito que só um homem assexuado pode ser. As mulheres são doces diferente. E não falemos delas porque elas têm até dia. O Senhor das Palmas só tem aniversário.

Não sei se ele é assexuado. Talvez tenha mulher, e com ela não seja doce. Só falta que ele tenha uma esposa e não sirva somente ela. Ele serve a mim, serve a Mary, serve até visita. E quando chega em casa, chega cansado e vê televisão esperando a mulher acabar a janta. Também, já serviu tanto.

(Na tevê, acabam de aplaudir um bobão que falou uma coisa que todos queriam ouvir. Ele queria o aplauso. Palmas!)

Ele vem devagarinho e pergunta bem baixinho se a gente quer água ou café. Eu peço café com leite, para ficar mais acordado. E a Amelie pede leite só para o Senhor das Palmas achar graça. Ele sempre acha graça:

— Senhor das Palmas, me vê um leite puro, por favor?

— Á-hahá! Leite puro? Nem um açucarzinho? Claro, tá (á-hahá!) aqui!

E bate palmas, porque nunca ninguém bateu palmas para o Senhor das Palmas.

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Quarta-feira retrasada, minha chefe pediu para ver se ela estava na esquina. "Mary-Cota", eu disse, "você está aqui na sua sala, estou te vendo!"

— Menino! Vai lá na esquina ver se eu estou lá!

Eu fui à esquina e naturalmente ela não estava. Quando voltei, disse-lhe que ela não estava na esquina.

— Ah, sim, tinha um espelho aqui na sala e eu me vi. Pede um café pra gente!

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Quarta-feira passada, quando comi uma maçã, minha chefe gritou forte: — "Rodolphinho! Você pensa que maçã dá em árvore?!" Dá, sim, eu disse. "Então pede um café pra gente!"

Rodolphinho